quarta-feira, 10 de junho de 2009

Marilyn Manson, a arte degenerada contemporânea



Não poderíamos deixar de falar de um dos maiores ícones do Freak Show contemporâneo. A Marilyn Monroe e o Charles Manson, juntos formam uma das mais comentadas bandas das últimas duas décadas.

Marilyn Manson sempre expandiu métodos e estendeu a sua expressão criativa que continua a divulgar mensagens importantes em suas músicas no qual simultaneamente fala para aqueles que o entende, e contra aqueles que nunca o entenderam. Manson é um artista controverso, se atreve a ter uma opinião e a criar música e vídeos que desafiam as idéias da sociedade. Em seu trabalho, examina o mundo em que vivemos, e mostrar às pessoas que o diabo que culpamos pelas nossas atrocidades é realmente cada um de nós.

Quem conhece a filosofia “Nietzschesiana”, nas músicas do Manson nota-se semelhanças entre as duas filosofias. Manson tem embasamento na teoria de Nietzsche, quem lê e ouve Manson nota isso evidentemente nas letras de música e na forma que ele se apresenta em público. "Antichrist Superstar" é um dos álbuns em que se pode notar bem isso. Ao invés de usar o termo “Super-man” ele usa o termo "Star". Então, a idéia geral é que Manson não permite à sociedade dizer se ele está certo ou errado, ou no que acreditar. É como dar o troco, ele passou a vida inteira tendo que acreditar no que diziam ser o certo, principalmente na igreja, e agora é a vez dele poder falar. Em "Antichrist Superstar" vemos essa progressão de “homem” para "Super-homem”. Podemos considerar Manson uma espécie de Nietzsche moderno, já que Nietzsche encorajava o pensamento independente, desencorajando as pessoas de seguirem a massa e ir contra aos questionamentos e valores da sociedade. Ambos parecem não gostar do cristianismo e os valores representados por ele. Vale lembrar que Nietzsche escreveu uma obra de protesto chamada “O Anticristo” e em músicas de Manson conseguimos notar várias referencias sobre essa obra. Mas o que nos intriga é que há certas divergências entre a filosofia dos dois, pois Manson se apresenta como um ídolo que está a guiar as pequenas ovelhas ainda que ele possa, ele não deseja isso. Manson já citou em diversas entrevistas que seu interesse é fazer com que a sociedade olhe a si mesma, não querendo ser um guia, por isso a ironia em "Antichrist Superstar". Mas ao mesmo tempo, um “ídolo” do rock já é um “guia” quer queira, quer não. Manson é uma pessoa que lê muito. É artista; e como todo artista, deve ser um chato, chato ao ponto de entender muito do que está falando, ser meticuloso em suas referências. Aí estão as diferenças.

O fato de Manson criar polêmicas e questionar a imprensa, religião cultura e tudo mais que estamos acostumados, choca. Choca tanto que virou motivo de atentado. Como o próprio disse. "É muito mais fácil colocar culpa numa imagem questionadora do que numa imagem protetora, como do presidente dos EUA.". No vídeo de “The Beautiful People”, Manson aparece numa torre de um castelo da Alemanha fazendo trejeitos “hitlerianos” para o povo. Podemos lembrar também do final da letra de “The Beautiful People” em que ele diz: "Tudo é relativo ao tamanho de sua torre/o capitalismo tornou as coisas assim/um fascismo à moda antiga acabará com isso". O fato é que se utilizar de imagens nazistas não é novo na história do rock. Sid Vicious, falecido baixista do Sex Pistols, usava uma camiseta com a suástica, enquanto o guitarrista usava uma com a foto de Karl Marx e o vocalista falava em anarquismo. Contraditório, não? Se a finalidade é chocar, se utilizar de qualquer imagem que seja considerada um "tabu" perante a sociedade "moralizada" é válido. O rock não é para ser "bonitinho" e agradável, e sim, justamente chocar, nem que para isso choque até mesmo aos que gostam da música, carregando bandeiras contrárias à nossa educação "humanista".

No período de pós 1ª guerra, o mundo passava por uma indisposição geral, e os movimentos artísticos, como o dadaísmo e o surrealismo, refletiam esse cenário. O artista estava retratando a sociedade que ele vivia, através do inconsciente coletivo, isso era um meio de salvação pessoal para o mesmo, porém nem todos estavam aptos a esta salvação, as grandes massas precisavam de algo mais literal e imediato. Quando o partido nazista tomou o poder essas necessidades foram superficialmente supridas, no entanto nesse processo de resgate de tudo que era puramente e patrioticamente alemão, veio a perseguição a arte e ao expressionismo. A maioria dos trabalhos progressivos de arte era considerada “degenerada”, confiscados, queimados ou expostos a uma espécie de espetáculo que veio a ser conhecido como museus da “Arte Degenerada”, como obras dos artistas Salvador Dali, Pablo Picasso, Max Ernst, Edvard Munch, entre outros. Manson sempre retratou esse contexto de “Censura x Expressionismo” durante toda sua carreira, junto com os elementos de música, arte e performance nos palcos que eram considerados “degenerados” pela mídia. Inversamente, a arte de Manson é repleta de elementos que evocam o nazismo retratado e usado dessa maneira “degenerada” trazendo junto a dicotomia de “bom” e “mau”, expressionismo e fascismo, preto e branco, Marilyn e Manson, exatamente para chocar e assim fazer as pessoas pensarem.

Podemos notar em suas músicas e atitude nos palcos e entrevistas como um elemento catalisador de mudança, uma mudança boa, mas não necessariamente pelo caminho mais “bonitinho” ou o mais correto, através do “estranho” e diferente, anti-convencional, ele muda a maneira de pensar e reagir com o mundo das pessoas. Manson, a meu ver, é a mais nova expressão das artes, da mesma forma que a Semana de Arte Moderna em 1922 quebrou com as regras de "tempo e espaço" literários, Manson iniciou um novo meio de quebrar com o "pós contemporâneo". A música dele é impressionista, só que cheia de críticas implícitas à sociedade, política, economia e religião. Além da questão contra as religiões dogmáticas, ele exprime revolta com os modelos atuais, sejam de família, sejam de educação ou de beleza.

Por vezes a música, livros e filmes são as únicas ferramentas que nos fazem sentir que há alguém que sente o mesmo que nós. E buscamos principalmente na música esse conforto e a fuga de tudo aquilo que me afeta buscando uma compreensão e fazendo uma análise da vida em torno dessas músicas.

Em “The Fight Song” ele cita uma frase do ditador Stalin: “A morte de um é uma tragédia, mas a morte de milhões é apenas uma estatística”. É algo que vejo todos os dias, morre um bonitinho famoso. E todos ficam deprimidos, que grande perda, todos choram, fazem homenagens na TV durante uma semana e tudo mais como manda o protocolo. Morrem milhões na guerra e só vem na cabeça "Ah, que pena, mas tudo bem, estamos acostumado com isso", e no outro dia estão comentando quem saiu do BBB.
“Se jogar de cabeça no inferno para moldar o indivíduo. De certo modo, é a história da minha vida.” De fato foi a frase que Manson disse e que resultou em maior impacto na minha vida. Devemos enfrentar e passar por cima de tudo que existe de ruim e que vá contra aos nossos costumes e valores, para assim finalmente moldar nossa identidade e descobrir os seres que somos.

Veja abaixo o vídeo ao vivo do show do Nine Inch Nails com participação de Marilyn Manson com a música "The Beautiful People"


5 comentários:

  1. Muito bom esse texto. Acompanho Marilyn Manson mas não sou fã, acho ele muito "poser"... para usar uma gíria bem comum em nossos tempos. Sua leitura de Nietzsche é ótima. O que Nietzsche nos ensina é que é preciso criar novos valores, não apenas destruir - o que lhe afasta do niilismo. A principal objeção de Nietzsche à religião e principalmente o Cristianismo é a existência de um deus que já criou o mundo e por isso pouco nos resta a construir. Nietzsche busca novos valores, uma nova ordem baseada na potencialidade criadora, Manson só se interessa em limpar sua bunda com as páginas da Bíblia.

    Abraço!

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  2. Cada um se expressa de uma maneira , mesmo com as semelhanças, nunca é a mesma coisa. E só porque Nietzsche não limpava a bunda com as pásginas da bíblia, não significa que ele não queria fazer isso. cada um de acordo com a sua época e com aquilo que quer representar.

    Bom texto, John ^^

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  3. 'Acompanho Marilyn Manson, mas não sou fã'²

    Eu gosto bastante dessa questão toda de 'revolucionar idéias'. Muitos a fizeram, ou pelo menos tentaram fazê-la, por praticamente toda a história da humanidade.
    Penso que pelo simples fato de não ser fã, não dou muitos créditos ao que o sr. Manson faz. Mas, da mesma forma que não lhe dou 'créditos', vejo que, após a leitura do texto, não se pode deixar seus atos passarem em branco. Uma pessoa que faz 'revolução' não pode, em momento algum, ser posta de lado. Até porque são poucos os caras que tem bolas de aguentar as críticas ferrenhas que se ganha quando se 'revoluciona'.

    O texto ficou realmente bom John, parabéns! o/

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  4. não acredito que se revoluciona algo já pensado e revolucionado, apenas defende-se a idéia. acho boa a comparação entre Manson e Frederick, mas acho as idéias muito iguais pra décadas tão diferentes e pensamentos mudados. acho que ele mais choca pelo visual, do que pelo que pensa. acho sim, o cara inteligentíssimo, mas se não tivesse o visual que tem, seria apenas mais um.

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  5. sou muito fã Marilyn Manson e Nitzsche, nao concordo com todas suas ideias mas marilyn manson eh uma coisa q todos precisavam ouvir pra ver se pensavam um pouco, ele mesmo fala que nao quer q as pessoas sejam igual a ele mas sim seja vc mesmo e faça a diferença e é isso q todos deviam pensar

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